domingo, 20 de maio de 2007

off

blog desativado.














achar novo no orkut.

sábado, 19 de maio de 2007

quiet.


" a boca crispada dizendo bem feito"


_ A. Dentini_




ela olhava o céu e parecia que o mundo cobria-se de azul e amarelo. não compreendia como as cores podiam virar um manto.e o vento, que não tinha, seria apenas a alma de um deus que ela ainda não conhecia. andava devagar, porque já tivera pressa. encontrava pessoas com rostos riscados, isto não a assustava mais. de uns meses para cá, Sofia andava meio desencantada com as coisas. nem a primeira estrela no céu lhe fazia ter vontade de pedir algo, fazer um desejo. a verdade é que ela estava cansada. as pessoas tinham sido tão más com ela quando tudo que ela fizera fora amá-las mais que tudo. certa vez uma cigana lhe disse ser 'uma corajosa domadora de unicórnios brancos', mas agora os unicórnios desapareceram e ela ficou só, com uns chifres sangrentos nas mãos. ela queria correr pra longe. correr até não ter mais pernas. mas não conseguia, Sofia estava dopada de remédios que traziam lembranças tão lindas-dóídas que só podia caminhar. às vezes ela encontrava uma pedra. sempre tropeçava, sempre. mas depois pegava cada uma dessas pedras e as guardava no bolso. talvez a ajudassem a terminar como Woolf. Logo lá na frente havia um lago. Pronto, seria lá mesmo.


Mas ao chegar ao lago, e encostar os dedos gelados nos lábios da água, viu um reflexo. Não era o seu, mas viu. Aquilo foi a coisa mais assustadora que Sofia vira em toda sua miúda vida. Ela, naquele momento desistiu de tudo. Ao desistir de tudo, ela acreditou no existir. Mas de longe, muito longe... a voz daquela cigana com cabelos feito noite soava e dizia 'bem feito... bem feito...' Sofia não sabia o que ela queria dizer com aquilo... se o que ela (não) fizera fora bem feito ou se queria aborrecê-la. Sentiu então um calafrio por todo o corpo e correu. Sofia correu.





e corre até hoje.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

rivotril.


hoje eu achava que não virias à mente. pois bem, a médica fez questão de lembrar.


não estás dormindo bem, não é?
-não.
-hum.
- acordo muito durante a noite.
- vou trocar o Apraz pelo Rivotril.
- RIVOTRIL?
- é, por que?
- nada.



incrível como o mundo conspira contra.

sábado, 12 de maio de 2007

carta ao ego ferido.


Que pingue em mim o suor so teu esforço fingido. Caindo pela minha testa, queimando meus olhos, molhando minha boca seca de vida. Vá escorrendo e passe por entre meus seios, lugar onde é tua morada desde sempre. Que desça, parando no meu umbigo, mundo perdido que abriga todos os meus segredos murmurados pelos lábios brancos da angústia. Em minhas entranhas há garras forçando-as. Fazendo-me sorrir um riso desesperado. Contorço-me feito uma borboleta enjaulada. Redoma de vidro, platéia-zumbi. A dança macabra do meu sangue. Correndo feito louco, uma maratona! Afoguem o coração. Mãos de chumbo tentam meus olhos fechar. A rima pobre dos meus versos come o bicho dos olhos teus. Tiro-te a vida, tiro-te a beleza. Que restes feia, impura e burra. Venha servir-me a mesa. Porque na minha história, eu te faço servil. Sem tua coroa, teus perfumes e teu canto. Aqui és humana, quase bicho. Te cuspo na cara. Deixe que a saliva minha te perverta os sentidos. Assim como fizeste outrora comigo. Matando-me no gozo do teu veneno letal. Faço amor na tua frente. Platéia burra, demente! Ouça meus gemidos de prazer, veja meus olhos revirados, meus seios endurecidos. Tudo aquilo que foi teu, energúmena. Quanto eu era coberta pelo véu de poesia pura. Hoje eu quero sujar cada pedaço branco. Marcar em cicatrizes, bem na tua fuça, todo o meu pranto. Quero que sigas marcada. Que te olhem e gritem : "Olha a puta ingrata! Já foi rainha e até beata, hoje come com os porcos e faz amor com as próprias unhas. Imunda!"

quarta-feira, 9 de maio de 2007

primeira carta para nunca ser entregue.



"O corpo da amiga na sombra é um mistério de Deus
É teu corpo, amada? são teus seios, é tua clara clara risada
Na sombra? não fujas... és um... um nenúfar
Aberto à água mansa."
_V. de Moraes_




Eu só estou escrevendo porque eu precisava dizer que se você aparecesse hoje eu ia te dizer tanta, mas tanta coisa. Porque eu tenho um monte de coisas pra falar mas eu sei também que quando você aparecesse eu ia ficar tão nervosa que todo esse monte de coisas que eu tenho pra falar desapareceriam como balão de gás em forma de coração no céu.

É que eu preciso de você. É, acho que esse é o principal. Eu preciso de você. Mas não é aquele preciso igual eu precisava chupar o dedo pra dormir. É um precisar como quando eu era bebê e precisava do leite da minha mãe pra viver. Um precisar que depois de um tempo passa. Mas enquanto esse tempo não chega, é mais necessário que qualquer coisa, entende?

Tem vários negócios que você precisa saber. E eu estou falando nessa linguagem de dia de semana porque é assim que as coisas vão saindo. Então, esses negócios não são coisas sérias. São bobagens que acontecem na minha vida que eu gostaria de compartilhar com você. Como, por exemplo, no dia em que eu sonhei com você e que a gente andava por um parque de diversões e você tinha medo de ir na roda gigante. Aí então, eu tirava forças de não sei onde, e te carregava (e você ia se debatendo toda nos meus braços) e te levava até a roda gigante, que tinha os bancos em forma de morango. Estávamos nós no banco de morango e eu começava a te mostrar a cidade. Cidade essa que não sei qual era, mas no momento era a minha cidade. Te mostrava tudo, tudinho mesmo. Você olhava e depois fechava os olhos e agarrava as minhas mãos porque estava morrendo de medo daquela altura toda. Quando saímos de lá, fomos comprar sorvete. Você comprava um de um sabor que eu não conhecia e que só existia lá naquela cidade que era minha. Não me pergunta como você conhecia esse sabor que nem eu sabia. Você se lambuzava toda e eu tinha que limpar com a barra da minha blusa porque a gente tinha esquecido de pedir lencinho pro moço do sorvete. Nós andávamos por lá. Depois fumávamos olhando pra praia - porque o parque era na beira da praia- e você dizia 'meu, eu queria mesmo era ser uma onda'. E eu acordei.

Então, são negócios bonitinhos como esses que eu quero te contar. Sem falar que preciso saber como você está. Sei que deve estar alegre nos músculos do moço-que-eu-não-devia-nem-ter-mencionado, mas eu sei que às vezes você deve ter seus momentos de fossa. Aqueles momentos em que dá vontade de ligar o foda-se pro mundo. Ou aqueles outros em que só se quer abraçar o travesseiro e chorar. Mesmo que só por dentro, como eu. Queria que você soubesse que em momentos como esses você pode me ligar. Nem que seja pra ficar caladinha enquanto eu tagarelo ou mesmo que fiquemos, as duas, num silêncio só, ouvindo a respiração até que se acabem os créditos. E se você não tiver créditos pra me ligar, pode me dar um toque a cobrar, eu arranjo um jeito de te ligar, nem que eu leve uma surra da minha mãe depois. Não me importo, realmente. e ah! você pode me ligar também quando estiver pulando de alegria e tiver vontade de contar pro mundo todo, inclusive pra mim, o quanto você está feliz. Eu posso estar lambendo o fundo do poço na hora, mas sorrirei de volta porque a sua felicidade paga a minha fiança. Fiança essa da Cadeia da Tristeza Profunda.

Eu acho que era isso que eu queria dizer. Espero que você leia isso aqui um dia, porque eu sei que nunca vou mandar pelo correio e nem amarrar na patinha de um passarinho pra bater na tua janela e te fazer acordar. Vou deixar aqui, pra quem tiver paciência, ler. Talvez um dia você caia nesses lados e pare justamente aqui. Se o fizer, me deixa saber.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

a musa diluída.


pedaços de pele na calçada. arrasto-me sem querer. presa no mundo dentro de mim. abrigada no umbigo. amargo descendo pela garganta. nem isso dilui tudo. quero explodir. e levar vocês todos comigo. morder o travesseiro e pintar as ruas de vermelho. sujar a frente da tua casa com palavras de dor prazerosa. não sei quem és tu, na realidade. tu, esse (a) pra quem estou escrevendo agora. também não importa, talvez seja eu mesma. subiu da terra um monstro terrível. com dentes afiados para roubar-me o sangue. deixou-me seca e fugiu sem dar adeus. eu me despedi sem ele. bebi o que havia no chão. e aí, morri. acontece que o líquido era a musa diluída. como veneno, infiltrou-se nas minhas vias. deixou-me tão doente que acabaram por costurar minha boca para que eu não mais sorrisse. meus dentes calaram-se.

até que em minha garganta meteram o dedo. eu solucei tanto até te vomitar! tive convulsões e desmaios mas, por fim, vomitei. Não saiste toda, é verdade. Mas hoje só te quero como a lembrança de algo que foi do falso ao vital.






Hoje, eu renasci.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

a fome que me alimenta.


eu estava ali. parada. defronte a mesa. minha barriga cantava a música dos famintos. olhava para um lado, para o outro. nada. foi então que caí. já com os lábios beijando o chão manchado, então, de vermelho, que senti o teu gosto. aquele gosto agridoce que entra na minha boca, dança com a minha língua e rasga a minha garganta. comi como quem não come há 16 anos. ávida e feroz. mastigava com gosto, sentindo-te romper-te no espaço pressionado dos meus dentes. creck. creck. creck. tu gritavas como uma onomatopéia. ou uma centopéia, perdendo as perninhas.


quando eu engolia, ias arranhando minhas paredes internas com tuas unhas roídas. fazendo sangrar tudo. queres mais suco de morango, amor? e o sangue-suco te banhava. deixavas-te lavar por ele porque não tinhas mais outra escolha assim, toda mastigada. e os sucos gástricos. e os vermes que tenho por ter ostentado um vazio tão grande por tanto tempo. todos ajudando-me a te corromper, decompor. até que meus olhos choram. derramam aquilo que não pude engolir. e lá vais tu, correndo pelo meu rosto. mas bebo tudo de novo e o ciclo se renova.






passaram as horas, o doutor chega.





- infecção alimentar.